sexta-feira, junho 29
quinta-feira, junho 28
Sísifo
sempre ao viés da vida
nos interstícios dos acasos
perpendicular a mim
por estradas
ora reais ora imaginadas
compulsivamente
caminho para me encontrar.
(Helena F. Monteiro)
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quarta-feira, junho 27
Alice Ruiz
Devia ser proibido
devia ser proibido
uma saudade tão má
de uma pessoa tão boa
falar, gritar, reclamar
se a nossa voz não ecoa
dizer não vou mais voltar
sumir pelo mundo afora
alguém com tudo pra dar
tirar o seu corpo fora
devia ser proibido
estar do lado de cá
enquanto a lembrança voa
reviver, ter que lembrar
e calar por mais que doa
chorar, não mais respirar (ar)
dizer adeus, ir embora
você partir e ficar
pra outra vida, outra hora
devia ser proibido...
(em parceria com Itamar Assumpção)
terça-feira, junho 26
Taquicardia
suor e arrepios,
me toma de assalto
uma taquicardia:
o pulso acelera
assim de repente,
me sinto doente...
Os olhos vidrados,
a boca silente.
Sutil calafrio,
qual sombra da morte,
percorre a espinha.
Na louca agonia
espasmos, tremores...
é a vida que parte?
São males? São dores?
Que nada...
São só ais de amores...
(Eliane Stoducto)
segunda-feira, junho 25
As Coisas
As coisas têm peso,
massa,
volume,
tamanho,
tempo,
forma,
cor,
posição,
textura,
du-ração,
densidade,
cheiro,
valor,
consistência,
pro-fundi-dade,
contorno,
temperatura,
função,
aparência,
preço,
des-tino,
idade,
sentido.
As coisas não têm paz.
(Arnaldo Antunes e Gilberto Gil)
domingo, junho 24
Et voilá, Casmurro-viajante voltou!
embalagem do Louvre, envelope com o símbolo da Réunion des Musées Nationaux e a foto da Vitória
Trouxe cadeaux pra todo mundo: ímãs de geladeira, que o mulherio da famíia é fissurada, inclusive eu, canetas, calendários e nada mais nada menos que 800 fotos no cartão da máquina.
Chose de loque, como dizia Sebá, o último brasileiro exilado em Paris, saudoso personagem dos bons tempos de Jô Soares.
Sûrement que vou mostrar alguma coisa aqui mais adiante...
A surpresa maior ficou por conta de outro mimo que ele trouxe para mim: uma reprodução da Vitória de Samotrácia, que já comentei aqui, num post passado. E ele só lembrou que ela era uma das minhas preferidas pois eu havia comentado sobre "uma estátua sem cabeça".
Surpresa das surpresas pois antes de viajar já foi avisando alto e bom tom: "não me peçam nada de museus pois me nego a me misturar àquela muvuca... Perde-se muito tempo em filas". Daí que pedi só um simples imãzinho francês para minha geladeira et rien de plus!
sábado, junho 23
sexta-feira, junho 22
quinta-feira, junho 21
quarta-feira, junho 20
terça-feira, junho 19
É bom lembrar que...
eles não só
te arrancam
os olhos
como também
te ferem
e dilaceram
a alma...
segunda-feira, junho 18
É assim que ele ficou quando soube que, além de ter que substituir o sogro doente no reino "Tão, tão Distante", teria que vir ao Brasil para acompanhar a arrecadação nas bilheterias de seu novo filme. Céus!!!!!!
Ele soube da última - a dos bois de Renan - e se apavorou...
Esta história me faz lembrar da canção de Chico Buarque - O Boi Voador - satirizando a história de Maurício de Nassau que, ao inaugurar uma ponte em Recife e temendo que não haveria platéia, prometeu fazer um boi voar durante a inauguração. Atualmente os bois estão em alta novamente. Não os bois voadores de Nassau, é claro, mas os bois de Renan que devem estar com as barbas de molho pois vai sobrar é prá eles...
Que falou no boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for"
domingo, junho 17
Vênus, Odaliscas, Olympias e Majas na História da Arte
Então, viajando ao passado, encontrei Ticiano (1490/1576) e sua Vênus de Urbino, cuja pose é baseada na Vênus Adormecida de Giorgione(1477/1510), portanto uma Vênus mais antiga e que, confesso, desconhecia completamente. Segundo os estudiosos de arte, ela servirá de base para a Olympia de Édouard Manet.
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No caminho de volta, encontrei Diego Rodriguez de Silva y Velázquez(1599/1660) e sua maravilhosa Vênus ao espelho.
Nos anos 1700/1800, além de Goya, merecem registro Jean Auguste Dominique Ingres e Eugène Delacroix.
Minha preferida dis-pa-ra-da: Olympia de Edouard Manet(1832/1883) que merece uma postagem somente para ela pois causou furor na época de sua criação por Manet. Aliás, farei isto mais adiante pois fiquei fascinada pela história de Victorine, que foi modelo constante de Manet e que pousou para sua belíssima Olympia. By the way, há um tempo atrás, o canal GNT passou um documentário da televisão francesa, onde recriaram a cena desta tela. Supimpa, para quem como eu, adora o assunto.
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Paul Cézanne( 1839/1906), que dizia: ""peindre signifie penser avec un pinceau" (pintar significa pensar com um pincel), deu sua versão à Olympia Moderna (1874) em sua fase romântica (1861-1870), influenciado pelos pressupostos da pintura de Delacroix e como homenagem ao seu mestre Manet, misturando humor e brutalidade, onde o gato de Manet se transforma em cão e onde um admirador de Manet/Cézanne/Olympia aparece na tela. Trata-se de uma versão barroca e violenta.
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sábado, junho 16
sexta-feira, junho 15
quinta-feira, junho 14
terça-feira, junho 12
Rua de Paris, tempo de chuva
(Gustave Caillebotte, pintor impressionista francês)
'tou com o cavalinho na chuva
há milênios de anos
'inda não enferrujou.
'tá todo doído
do forte granizo
que o céu nos mandou.
'tá firme - bem firme
meio novo meio velho
'inda não descansou
'tá todo sofrido
da roda-ciranda
que o povo cantou
(MHP)
segunda-feira, junho 11
Goya vem aí!
Luis Fernando Veríssimo deve estar preparando uma bela recepção ao próximo expositor do MARGS . Nada mais, nada menos que o ilústre Francisco de Goya y Lucientes(1746-1828), pintor espanhol e um dos grandes nomes da História da Arte.
Sim, porque quem leu a série "Traçando", principalmente Traçando Madrid, vai lembrar que ninguém mais que o fantasma de Goya acompanhou LFV e sua troupe em uma de suas visitas à Madrid. Só mesmo Veríssimo para mesclar arte e uma viagem de turismo de uma maneira tão genial como o fez em Traçando Madrid, acompanhado pelo fantasma de Goya e nos brindar com diálogos imperdíveis.
E voltando à exposição de Goya, ela acontecerá no MARGS, de 15 de junho a 15 de julho com mais de 200 estampas que mostram o lado cronista de Goya.
Para ilustrar este post transcrevo abaixo um trecho do diálogo entre LFV e o fantasma de Goya sobre uma das famosas obras de Goya: a Maja retratada duas vezes, vestida e nua.
" a minha Maja nua era um escândalo". Não existia uma tradição de nús na pintura espanhola, como existia na italiana, por exemplo. "Existia a Vênus de Velázques, mas aquilo era mitologia. Minha Maja não era uma alegoria. Sua nudez não representava nada além dela mesma". Conto que vi a Maja nua descrita como o primeiro nú feminino em tamanho natural totalmente profano da arte ocidental e Goya concorda com um sorriso largo. " É isso. Eu sei disso. E mais: ela sabe disso. Veja o olhar dela. Ela sabe que é a primeira mulher nua sem rodeios, ornamento ou dissimulação da história da arte e o seu olhar desafia a nossa reprovação ao mesmo tempo que nos convida a admirar sua nudez. Ela não é "um nú". É uma mulher despida, o que é diferente. Eu a pintei primeiro vestida para que isso ficasse claro. É uma mulher que tirou a roupa para você. Ou você tirou a roupa dela. Isto nunca tinha sido visto antes". Goya enlaça o meu braço e pede: "Me fale dos seios dessa Ursula".
(Traçando Madrid, Luis Fernando Veríssimo, pag. 38 e 39)
quinta-feira, junho 7
E nem será paixão, será o gosto
do sentir excessivo e prolongado,
o gosto da emoção, que a mim me livra
de um tédio natural e consumado.
Revejo a minha vida a cada passo:
quando a vivi realmente como minha?
Nunca soube o que quis; no entanto, sempre
era-me pouco tudo o que podia,
era-me pouco tudo o que alcançava,
para a sede na certa muito grande,
uma sede na certa inconfessada;
sede visível mais do que diamante,
e que me leva a quê? transfigurada,
e assim amar, porque é fatal que se ame.
(marly de oliveira)
quarta-feira, junho 6
Metáforas de René Magritte
Obra do pintor surrealista belga, feito em 1950, que se chama PERSPECTIVE II Manet´s balcony, baseada na tela
de Edouard Manet - The Balcony - feito em 1868.
Sabe-se lá o que Magritte quis dizer ao substituir as pessoas por caixões de defuntos. Como todo surrealista que era, suas criações eram "viagens" aos mistérios do mundo que ele via e no qual vivia. Reparem que o balcão e o vaso de flores permanecem no cenário. Certamente um prato cheio para "n" interpretações psicológicas, sociológicas e antropológicas. Eu, como leiga no assunto, faço constatações ao ler a respeito dos grandes criadores de Arte e divido elas com quem se interessa pelo assunto.
:o)
terça-feira, junho 5
Conte de fée
Il était un grand nombre de fois,
Un homme qui aimait une femme,
Il était un grand nombre de fois,
Une femme qui aimait une homme,
Il était un grand nombre de fois,
Une femme et un homme,
Qui n'aimaient pas celui et celle qui les aimaient,
Il était une seule fois,
Une seule fois peut-être,
Une femme et un homme qui s'aimaient
ROBERT DESNOS
segunda-feira, junho 4
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.
domingo, junho 3
Coisa tua
assim que vi você
logo vi que ia dar coisa
coisa feita pra durar,
batendo duro no peito
até eu acabar virando
alguma coisa
parecida com você
parecia ter saído
de alguma lembrança antiga
que eu nunca tinha vivido,
mas ia viver um dia
alguma coisa perdida
que eu nunca tinha tido
alguma voz amiga
esquecida no meu ouvido
agora não tem mais jeito,
carrego você no peito
poema na camiseta
com a tua assinatura
já nem sei se é você mesmo
ou se sou eu que virei alguma coisa tua
(Waltel Branco e Alice Ruiz)
sábado, junho 2
"No caos urbano, a subversão poética"
é o título do texto de José Francisco Alves, Doutorando em Artes Visuais pela UFRGS, publicado no CADERNO DE CULTURA da ZH (sábado, 02/06/07), em função de uma faixa para pedestres transformada numa das imagens mais presentes em nosso cotidiano: o código de barras.
Há muito que eu registro a "subversão poética" existente no caos urbano reparando em verdadeiras obras de arte: o grafiti urbano. Não aquele poluidor e destrutivo que picha inclusive monumentos e prédios públicos.
Estou falando da criação de artistas anônimos, espalhadas pelos muros próximos das grandes avenidas. Quando faço minhas caminhadas pela cidade, sempre saio munidada de máquina fotográfica porque sempre há uma beleza a ser registrada.
É o que postarei a seguir.
1) Em meio a muvuca da Rua dos Andradas, numa das paredes dos antigos cinemas Guarany e Imperial, o grupo que se chama pelosmuros, formado por alunos do Atelier Livre da Prefeitura, colocou esta beleza homenageando nosso poeta Mário Quintana, assíduo freqüentador da Rua da Praia. Se você tentar reparar nesta obra de arte quando passar por lá, não vai mais encontrá-la é claro... já tacaram sobre ela outra poluição visual - uma propaganda de um bailão funck que de arte não tem nada!