sonhos em preto e branco
Esta sou eu, descalça nas enxurradas, manhãs esperançadas. Esta sou eu, adolescente, indo ao colégio, olhos fixos na estrela vespertina. Esta sou eu, lendo à luz da lamparina na madrugada, olhos percorrendo páginas amarelas, passeando por poemas barrocos na companhia de estrelas foscas. Esta sou eu, espiando por entre balaustras o sobrinho do professor de francês, seus olhos verdes, sua pele jambo, na varanda da casa da esquina. Esta sou eu, na mesa do café da manhã, ouvindo a pergunta diária do pai: — teve sonhos coloridos ou em preto e branco? Dez anos, pequenina cidade de Peabiru. Quantas mentiras meus olhinhos beberam no Cine Vera? Amor passeando de lambreta rasgando ruas de Roma, a beleza exótica — Troy Donahue, a professorinha enamorada na garupa... O amor idealizado "Candelabro italiano" ... o amor se apresentou a mim: Al di la... Del sogno piu ambizoso, delle cose più belle. delle stelle del mare piu profondo, del limiti del mondo, della volta infinita... Al di la della vita. ... Esfarrapado e imundo dei de cara com ele, enfim, mendigo extraviado que implora pra ser notado. Eis o amor, despejado humilhado não vive em estrelas nem mar profundo, nem no limite do mundo, está sempre no meio do caminho pedra poema estirado cão sublime à espera de um dono franciscano que o acolha com todas as chagas e enganos.
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