domingo, agosto 31

Lewis Carroll As aventuras de Alice no país das Maravilhas




Para o lado de lá”, disse o Gato de Cheshire, apontando com a pata direita, “vive um Chapeleiro: e para o lado de lá”, apontando com a outra pata, “vive uma Lebre de Março”. Visite qualquer um dos dois: ambos são loucos”.
Mas não quero encontrar gente louca”, observou Alice.
Ah, isso não tem jeito”, disse o Gato.
Somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca”.
Como é que você sabe que eu sou louca?” disse Alice.
Só pode ser”, disse o Gato, “ou não estaria aqui".

sábado, agosto 30

Orlando Pedroso, el Poderoso




... qualquer semelhança com a vida real, é mera coincidência!


sexta-feira, agosto 29

Foto: Cornik book guy

talvez

um dia talvez eu me despeça
talvez um dia eu resolva
(de uma vez por todas)
que minhas máscaras perderam a graça
que minhas fantasias perderam a cor
e que estive estancada
sendo voyeur de mim mesma
repleta de não
e fingindo amor.

aline




quinta-feira, agosto 28



as vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidade...

Mario Quintana




quarta-feira, agosto 27




O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

(JoãoCabral de Melo Neto in Os Três Mal-amados)

Publicado no blog da Valéria



terça-feira, agosto 26

Foto: Pixdaus
Cinzas

Um traço de sangue
Entre os dedos
Separa minha dor
Dos teus medos

Um risco de luz
Entre os desejos
Separa teu silêncio
Dos meus devaneios

Cinzas de amor
E a vida abrasa

[...]

(Mary, do Blog de 7 Cabeças)

segunda-feira, agosto 25

sexta-feira, agosto 22



Estou, como os alcólatras e drogados que resolveram deixar o vício, em síndrome de abstinência.
De longe, o sofrimento daqueles, deve ser bem mais dolorido que o meu. Mas para mim também não está fácil administrar esta situação.
Primeiro, minha máquina fotográfica pifou. Está no conserto já vão lá mais de 10 dias. Não saio pra rua sem ela. É uma peça indispensável na bolsa assim como a carteira de dinheiro e o telefone celular. Não consigo me acostumar com sua falta...

Segundo, estou longe de um Yorkshire, que pousou de pára-quedas em casa de minha mãe e que me adotou como dona ou mãe-postiça pois tenho passado longos períodos com mami à cause dela estar precisando constantemente de minha presença. A mãe verdadeira dele é minha sobrinha Carol que temporariamente não está podendo abrigá-lo e que aliás, aparece na foto aí em cima com ele. Quase me atrevo dizer que ela dançou. Ele agora me considera sua mãe e como tal, sente minha falta quando me afasto de lá e eu, por minha vez, morro de saudades dele também.
Pedi um tempo para mami. Para respirar, rever amigos, minha casa, minhas coisas, minha vida e agora estou aqui, louca prá voltar. E o pior: prá rever um cãozinho!!!!!

quinta-feira, agosto 21
























Foto: Miguel Angel de Arriba Cuadrado



There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he



And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me
"The greatest thing you'll ever learn Is just to love and be loved in return"




quarta-feira, agosto 20
















Foto: CAKasper


O passado empurra você e eu e todo mundo da mesmíssima maneira,
E a noite pertence a você e a mim e a todo mundo,
E o que ainda não foi experimentado e o que será depois é seu e meu e de todo mundo.


Não conheço o que não foi experimentado e o que vem depois,
Mas sei que é líquido e certo e vivo e o bastante.

Folhas de Relva de Walt Whitman



terça-feira, agosto 19

Já que o tempo aqui só faz chover...

















chuva para ser chuva
tem que cair todas as chuvas
chuvas sujas
chuvas de pedras
chovendo onde o vento
faz a curva
chuva pra ser chuva
tem que ser precipitada
chuva de papel picado
chovendo copiosamente
sem chover no molhado
chuva para ser chuva
tem que sair na chuva
derramando
as primeiras chuvas
da estação chuvosa
chuva de perguntas
chovendo silenciosa

(Don Suelda de Itararé, em Kamikase do Espanto)

segunda-feira, agosto 18


Foto: Pixdaus



Não me pense amarga, não sou.

Eu chupo balas, pirulitos, estalo m&ms entre os dentes.

Eu sorrio

E quando estou feliz fico lustrosa feito balão

Mas tenha paciência,

pessoas não podem ser adoçadas artificialmente.


(czarina das quinquilharias)




domingo, agosto 17

Para os amantes do "noir et blanc" e da musique française

Patricia Kaas





Il joue avec mon coeur,
Il triche avec ma vie,
Il dit des mots menteurs,
Et moi, je crois tout'c qu'il m'dit.
Les chansons qu'il me chante,
Les rêves qu'il fait pour deux,
C'est comme les bonbons menthe,
Ça fait du bien quand il pleut.
Je m'raconte des histoires,
En écoutant sa voix,
C'est pas vrai ces histoires,
Mais moi j'y crois!

Mon mec à moi
Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit

Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Oh oui!

Mon mec à moi

Sa façon d'être à moi
Sans jamais dire "je t'aime"
C'est rien que du cinéma
Mais c'est du pareil au même

Ce film en noir et blanc
Qu'il m'a joué deux cents fois
C'est Gabin et Morgan
Enfin, ça ressemble à tout ça

Je me raconte des histoires
Des scénarios chinois
C'est pas vrai ces histoires
Mais moi j'y crois

Mon mec à moi
Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit

Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Oh oui!
Mon mec à moi

Mon mec à moi
Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit

Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Oh oui!

Mon mec à moi
Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit

Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Oh oui!

sábado, agosto 16


Antídoto

Guardo as minhas contas
por vencer
em páginas aleatórias
de um livro de poesia.

No dia do vencimento,
leio o poema,
e vou ao banco
feliz da vida.

(ainda da Semana Divertida, do Blog de 7 Cabeças)



sexta-feira, agosto 15

Foto: Charles Grixti do PIXDAUS


eu te observo do lado de dentro
de onde nunca saí
e de onde nos encontramos todos os dias
as vezes fecho os olhos
mas é para te esperar
e nem sempre vens
e não somos nada e além
do que foto e grafia
cifra e melodia
esperar-te é meu lamento.

(da semana divertida, do Blog de 7 Cabeças)





quinta-feira, agosto 14



"I didn't know that Cheshire cats always grinned", é o que diz Alice no quadro aí acima.
Eu, porém, conheço um que sabe muito bem porque anda com sorriso de orelha a orelha!





quarta-feira, agosto 13


Where is this "love"?
I can't see it,
I can't touch it.
I can't feel it.
I can hear it.
I can hear some words,
but I can't do anything with your easy words.


NATALIE PORTMAN (Alice, personagem do filme CLOSER)




terça-feira, agosto 12

Foto: C.A.Kasper


Outros Tempos


Soltar o passo do destino
sem mapas
Apenas caminhos!

Passar por entre casas
de janelas entreabertas
Mesa cheirando a café
E pessoas com gosto de aconchego!

Passar por ruas de solidão extrema
Postes de luzes altas
e meu passo vazio pisando pedras
…em calçadas antigas!

Passar por vilas
de silêncio e saudades
onde o passo se esquece
e se prende por lá - a lembrança!

acqua

segunda-feira, agosto 11

Mário Quintana


Idades só há duas:
ou se está vivo ou morto.


domingo, agosto 10






Rapte-me
adapte-me
ao seu
ne me quite pas.
(caetano)









Foto:

Henri Cartier Bresson





sábado, agosto 9




Já tentei croché
Já tentei tricô
Já fiz pão e fiz teatro.
Entrei pra esquerda,
cutuquei o partido;
Fiz bolo e artesanato.
Tentei de tudo, tentei de nada.
Fui Zé Ninguém e dona-de-casa.
Já dormi sonhando reis,
Já dormi sonhando putas,
amantes de Sol, amantes de Lua.
Mas não me encaixei em nada
E fui ser coringa no meio da rua.


Amanda Bigonha Salomão

sexta-feira, agosto 8













chambre avec vue

(henri salvador (2000)

C'est un ailleurs
C'est une chambre avec vue
C'est un ailleurs
Un lieu où j'ai vécu
Quelques bonheurs
Passés inaperçus
Quelques douceurs
Avec une inconnue
Que j'ai connue

C'est le grand air
C'est une chambre avec vue
C'est le grand air
Juste au coin de la rue
Une vie entière
De la fin au début
Douce et amère
L'ai-je vraiment vécue ?
Je ne sais plus
Je ne sais plus


(foto: CAKasper)





quinta-feira, agosto 7



Tia coruja assumida, não resisto:
preciso mostrar a quantas anda Eduarda.






















foi
você
quem
disse

tudo
que
sei

de
mim.

( Wilson Guanais)



quarta-feira, agosto 6



semana

nem aos domingos
e segundas-feiras
nem terça, quarta ou
quinta
sexta nenhuma nem sábado nenhum
descansarei
que todo dia essa lembrança tua
lavra meu coração

(Adelaide Amorim)



terça-feira, agosto 5




Corlapso


hoje
não choveu estrelas
nem
pétalas de prosa,
hoje
fez-se brisa
onde era brasa
e restou
uma poesia rasa,
hoje
eu esqueci as asas

em casa.


(Múcio Góes, do Blog de 7 cabeças)





domingo, agosto 3

Lua Nova deitada, marinheiro em pé


Foto: Google Imagens


Era o ditado que minha avó Cecília repetia toda vez que via a Lua Nova deitadinha no céu.

Nós, meus irmãos e eu, curiosos perguntávamos que ela nos explicasse. Ela então dizia que quando a lua nova estava deitada os marinheiros em alto mar teriam trabalho pois aconteceria chuvas intensas que poderiam alagar o navio. Daí, que não poderiam ficar dormindo sossegados.

E que, ao contrário, se a Lua Nova estivesse em pé, os marinheiros não teriam problemas de alagamento no navio, pois não choveria. Confesso que nunca comprovei a veracidade da teoria de
minha vó Cecília.
Nesta noite gelada reparei que ela está deste jeito no céu e me lembrei na hora do "LUA NOVA DEITADA, MARINHEIRO EM PÉ"
Liiiiinda que só ela. Vale a pena abrir a janela e admirá-la. Se você não fez isto, faça agora pois amanhã talvez o céu esteja nublado e impeça que ela se exiba novamente.


sábado, agosto 2


wildness






não pise no meu jardim


agora planto flores selvagens


e elas podem te engolir






(Mary, do Blog de 7 Cabeças)